May 8, 2009

Punitive Policies to Reduce Drug Use Fail


SAN FRANCISCO, May 7 (UPI) -- Punitive policies intended to reduce drug use by making life difficult for convicted users are counterproductive, U.S. researchers found.

Study leader Juliana van Olphen of San Francisco State University and colleagues conducted focus groups and conducted semi-structured interviews with 17 women who had recently left jail.

"Our conclusion was that punitive drug and social policies related to employment, housing, education, welfare, and mental health and substance abuse treatment make it extremely difficult for users and former users to live a normal life and reintegrate into society," van Olphen said in a statement.

For example, there is a federal ban on food stamps for people convicted of a drug offense and the "one strike, you're out" policy by which first-time drug offenders are evicted from public housing, van Olphen said.

"These policies have adversely and disproportionately affected women, especially poor women, ruining their chances of finding employment, housing or education upon release," van Olphen said.

The stigmas -- created to act as a deterrent to drug use -- often wind up promoting it by limiting the options of the victims of the "War on Drugs," van Olphen said.

The findings are published in the journal Abuse Treatment, Prevention and Policy.

Source: EURODRUG - INFORMATION LIST OF THE EUROPEAN COALITION FOR JUST AND EFFECTIVE DRUG POLICIES
UPI.com

English

May 7, 2009

Perguntas e Respostas sobre a Legalização.



Com Marchas da Maconha acontecendo em diversas cidades do mundo, várias sendo proibidas no Brasil e a do Rio se aproximando (prevista para acontecer no próximo domingo), algumas questões têm aparecido com frequência na mídia. Recebi alguma delas por e-mail, de um jornalista, querendo obter o ponto de vista de um médico, especialista em dependência química e anti-proibicionista. Resolvi então, postar aqui as minhas respostas.


Por que a maconha deve ser legalizada?


Não só a maconha, mas todas as outras drogas devem ser retiradas da ilegalidade, do mercado informal e do domínio das quadrilhas do crime organizado. A proibição, nos seus 100 anos de história, não cumpriu sua missão de acabar com as drogas no mundo e nem diminuiu a sua disponibilidade. O acesso às drogas nunca foi tão fácil, e apesar de todos os mecanismos repressivos (e todo o dinheiro gasto com isso, no mundo), o preço no mercado nunca esteve tão baixo. Até mesmo o diretor do escritório para drogas e crime da ONU (UNODC), admitiu recentemente, que o sistema atual gerou, o que ele chamou de dano colateral, indesejado; um mercado ilegal de imensas proporções.Todas as drogas devem ser regulamentadas da mesma forma. Do ponto de vista da saúde, não faz o menor sentido ter drogas totalmente proibidas, que até o uso/porte é considerado crime, enquanto outras, como o álcool, tabaco, benzodiazepínicos, anfetaminas, podem ser adquiridos, com algumas restrições, mas de forma legal.


Qual o risco potencial do uso da maconha?


A maconha, como todas as substâncias, medicamentos, e até mesmo, alimentos, tem efeitos prejudiciais sobre o organismo. Os efeitos e, conseqüentemente, os riscos, são diferentes para cada pessoa, e dependem de uma série de fatores, dentre eles, a quantidade e freqüência em que é consumida, fatores predisponentes (doença mental), idade (para cérebros em formação:criança/adolescente os riscos são maiores). Os estudos, na área, ainda são inconclusivos, assim não é possível afirmar, com 100% de certeza, que há uma relação causal entre o uso da maconha e o desenvolvimento da síndrome amotivacional (apatia, falta de interesse) e de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, por exemplo, mas seriam estes os possíveis riscos mais graves. Além disso, uma série de outras doenças relacionadas ao veículo com que a maconha é consumida, de forma fumada, e às vezes misturada com o tabaco, potencialmente podendo causar todos os males associados ao consumo de cigarro.


Em comparação com o álcool e com o cigarro comum, em que pontos ela é menos prejudicial e em que pontos pode ser mais perigosa?


Comparada a estas duas substâncias, álcool e tabaco, a maconha pode ser considerada a menos prejudicial à saúde. Nesta comparação, o uso da maconha só é mais perigoso, pelos riscos que o usuário corre ao adquirir e portar a droga (todos ligados ao sistema proibicionista, e não à droga em si). Ter que enfentrar a violência do tráfico e da polícia nas bocas de fumo, o risco de ser preso confundido com traficante, levar bala perdida, ser expulso da escola ou de casa, porque descobriram que você usa uma uma droga que é considerada ilícita é, sem dúvida, muito perigoso. Segundo dados da ONU o tabaco mata 5 milhões de pessoas ao ano, o álcool 2,5 milhões e todas as drogas ilícitas juntas, cerca de 200 mil pessoas por ano. Então, a grande questão é: porque, algumas drogas, com tantos danos à saúde já comprovados, como o álcool e o tabaco, têm seu consumo tolerado e outras não?


A legalização não poderia aumentar o número de usuários e, conseqüentemente, o gasto público com seu tratamento?


Essa é uma pergunta para a qual só teremos uma resposta, quando algum país tomar a iniciativa de legalizar as drogas que hoje são consideradas ilícitas em todo o mundo. O que podemos fazer é especular os possíveis resultados/consequências da legalização das drogas através de comparações com o que ocorreu com a proibição e em seguida legalização do álcool nos EUA durante a Lei Secae com as políticas mais flexíveis de descriminalização que vêm sendo implementadas, principalmente na Europa.
Com base nos dados que temos, a implementação de políticas menos proibicionistas, não levou ao aumento do número de usuários e mesmo se ocorreu um aumento transitório no consumo, o número de dependentes, ou usuários problemáticos não se alterou, ou até mesmo sofreu redução. E em termos de gastos para o sistema de saúde, com tratamento, por exemplo, os dados que temos que observar são os do aumento do número de dependentes. Nem todas as pessoas que usam uma droga apresentam problemas relacionados à substância, ou delas se torna dependente. No caso da maconha, menos de 10% das pessoas que a consomem, se tornam dependentes.
Nos EUA, onde o número de usuários é muito maior e muitos milhares são presos somente por uso/porte de maconha, os gastos com processos criminais, ultrapassam, e muito, os gastos com o tratamento dos danos à saúde provocados pela droga, e é esta, uma das razões pela qual muitos estados estão buscando alternativas à proibição e implementando práticas menos repressivas, com bons resultados.
No caso único da Holanda, que resolveu disponibilizar a maconha, com algumas restrições, com a venda em Coffee Shops, um dos principais objetivos, foi evitar que os usuários de maconha (que são a grande maioria de consumidores de drogas consideradas ilícitas) tivessem contato com o mercado ilegal e todos os riscos inerentes a ele, principalmente o da oferta de outras drogas que consideram mais pesadas, como a cocaína e a heroína, que geram muito mais danos à saúde. Hoje, já com cerca de 30 anos de experiência desta iniciativa, os políticos e governantes não querem voltar atrás e retomar às medidas proibicionistas, mesmo sofrendo (ou talvez, melhor, lucrando) as consequências de um crescente turismo de drogas, que todos os fins de semana leva milhares de europeus, principalmente belgas e alemães, às suas cidades, para frequentar os Coffee Shops.

Lobão debate na MTV A Política de Drogas no Brasil


A partir da questão “a política de drogas no Brasil é eficiente?” Lobão inicia dizendo que este é mais um debate da série sobre a intervenção do estado sobre o indivíduo. “Se isto é certo ou errado, nós vamos tentar descobrir isso agora”.

O debate, realizado na última treça, 5 de maio, contou com a participação do delegado do DENARC Carlos Magno, Cristiano Maronna, advogado, NEIP, Isabel Ferreira, psicóloga da área de dependência química, Dartiu Xavier, psiquiatra, diretor do PROAD, Daniel Cordeiro, psiquiatra do UNIAD, e Marco Magri, cientista social e membro do Coletivo Marcha da Maconha.

Lobão inicia o debate percorrendo as duas mesas, que por coincidência, ou não, tinha, no braço direito: Dartiu Xavier, Marco Magri e Cristiano Maronna e no braço esquerdo: Daniel Cordeiro, Carlos Magno e Isabel Ferreira.

O delegado do DENARC foi o primeiro a falar, defendendo a lei brasileira sobre drogas, “hoje temos uma política, que trás muitos avanços”, ressaltando que as drogas continuam proibidas em todo o território, mas que o uso e a posse de drogas não pode mais punido com prisão. Acha que a mentalidade avançou, ao contrário do que pensa Lobão. Reforça que a marcha da maconha está, em tese, proibida, e justifica “se a passeata tem algo a ver com a maconha, e a maconha, como princípio ativo, é droga ilícita no país...” Mas, Sr. Delegado, não podemos nem falar do assunto?.

Em seguida, Cristiano Maronna rebate, dizendo que a proibição da Marcha da Maconha é uma atitude anti-democrática, “o direito de protestar por direitos é uma característica de qualquer democracia e isso mostra que o Brasil está na retaguarda do atraso. Enquanto no mundo inteiro essa discussão é realizada de forma franca, aberta, honesta, com base em argumentos racionais e não com base apenas na substituição da realidade pela fantasia, que é característica básica do proibicionismo, aqui no Brasil, nós temos essa situação”. Cita países como Portugal, Espanha, Itália onde já se implementou políticas que tratam da questão fora da esfera penal, veículos da imprensa, como a revista The Economist, bíblia neo-liberalista, de histórico conservador, também tratando abertamente do tema da legalização das drogas, num momento em que o sistema proibicionista completa 100 anos revelando-se um “retumbante fracasso”. “Portanto é tempo de buscar uma alternativa racional fora da proibição”.

Lobão pontua que ainda há um tabu na sociedade, em relação ao tema das drogas: “como a caça às bruxas que daqui há cem anos, vamos dizer: meu Deus, a gente estava fazendo isso!”. Passa, então, a palavra à psicóloga Isabel Ferreira, que pontua que o importante para a área da saúde é focar na dependência química e no sujeito que desenvolve essa dependência.

“A dependência é uma coisa mais ampla que a droga”, conclui Lobão, reforçando sua idéia de tabu “estão pegando a parte pelo todo”. E passa a palavra ao psiquiatra do PROAD, Dartiu Xavier que reafirma que não podemos considerar que todo usuário de drogas é, ou se tornará dependente desta droga. “Os estudos mostram que menos de 10% de quem usa maconha vai se tornar dependente uma vez na vida, algo,por exemplo comparável ao álcool. “Seria a mesma coisa você tentar fazer uma campanha para melhorar o alcoolismo, fazendo o proibicionismo do álcool”. Fala da experiência desastrosa da Lei Seca nos EUA, que foi o que fomentou toda a violência, (corrupção, Al Capone, etc), na época. Segue dizendo que “Não podemos tomar o uso da maconha como sinônimo de dependência, pois é uma minoria que tem esses danos decorrentes do uso”. “Se a gente considerar os milhões de pessoas que usam maconha no mundo, e os danos relacionados ao uso de maconha, eles são tão ínfimos, perto do universo de usuários, que ela pode ser considerada uma das drogas menos agressivas”. Conclui dizendo que não está querendo fazer apologia à maconha, reconhece que muitas pessoas têm problemas com o uso da maconha, existe dependência de maconha e que ele já tratou várias, mas que isso não quer dizer que devemos insistir na política proibicionista achando que assim vamos resolver o problema.

Lobão, brilhantemente, arremata, afirmando que devemos “abrir o espectro para poder verificar que a dependência é uma situação psíquica, que está atrelada a uma coisa muito mais profunda que as substâncias propriamente ditas” e passa a palavra ao psiquiatra da UNIAD que demonstra seus sentimentos em relação às políticas mais liberais, flexíveis, como “um frio na espinha” (olha o medo aí, gente!). Concorda com Dartiu que os dependentes, são uma menor parte, mas “é como uma roleta russa: não sabemos quem vai ficar dependente”. Lobão imediatamente rebate dizendo: “também não temos como ser capitães do destino dos outros”. Daniel continua, descrevendo a sua visão que é a do lado pior do uso de drogas, o desespero dos dependentes e de suas famílias e a falta de assistência.

Após breve e desastrosa intervenção do delegado do DENARC, dizendo que o problema da marcha é que muitas pessoas “caem ali de pára-quedas”, sem saber do que se trata e só captam a parte de apologia à drogas. Lobão corta e passa a palavra a Marco Magri, do Coletivo Marcha da Maconha, que refere que “o frio na espinha” é ver a censura atuando na Marcha da Maconha, “um movimento direcionado à mudança de uma lei, de uma política pública, que em nenhum momento, faz apologia”. Lobão intervém, dizendo que “é um assunto que é pertinente, que a sociedade tem que discutir, e há uma repressão do tabu de que não pode falar, porque é apologia”.

O programa tem que ser visto na íntegra, pois tudo o que foi discutido é de extrema relevância e os vídeos (discussão dividida em 4 blocos, aproximadamente 45 minutos), podem ser vistos no link sob o título deste post.


Aqui, não posso deixar de dar destaque às intervenções de Cristiano Marona e Dartiu Xavier, pontuando os danos causados pela criminalização/proibição, às pessoas que usam drogas e aos dependentes que também são enquadrados como traficantes, pois são pegos vendendo drogas para financiar seu consumo (diferenciação que não é clara na nova lei, que deixa a cargo do delegado e do juiz a distinção entre posse para a venda e para consumo próprio). Danos até aos pesquisadores, que encontram enormes dificuldades ao tentar estudar qualquer droga ilícita, e alguns até perseguidos judicialmente por fazer essas pesquisas ou praticar atividades de redução de danos.

Preciso ainda ressaltar as brilhantes tiradas do Lobão, deixando bem claro, o absurdo da tentativa do estado de controlar o que o indivíduo consome e o tabu (e a lei de apologia) que impede a discussão aberta do assunto.



Algumas colocações interessantes e tiradas imperdíveis:

- Daniel: "mas a pergunta é: porque as pessoas usam maconha?"
- Lobão: "porque é horrível."

- Lobão: "no Brasil, qualquer tipo de opinião sincera, as pessoas são absolutamente refratárias, dizem que você é maluco, e o assunto em si nunca se discute."

- Dartiu: "sempre falam que a maconha é porta de entrada, e eu mostrei que pode ser ,também porta de saída." (sobre seu estudo mostrando que dependentes conseguem parar de usar o crack, com o uso da maconha).

- Daniel: "o crack é o fruto direto da proibição
- Lobão: "proibir sexo, gera tarados, proibir drogas, gera drogados."


- Cristiano: “em qualquer democracia a auto-lesão não pode ser punida, o suicídio é o exemplo mais grave de auto-lesão e o indivíduo não pode ser punido por isso, assim também o consumo de qualquer substância que faça mal à saúde, não poderia ser punido.”


- Lobão: “a pena de morte para tentativa de suicídio, seria ótimo, heim?!”


- Lobão: “na imprensa inglesa, tem jornalistas, personalidades falando disso com a maior naturalidade, se eu falar deste jeito aqui, vou ser preso imediatamente!” “Temos que ficar todo polido, com o maior cuidado”. “... ele não pode nem fazer a passeata!”


- Daniel: “acho que é uma ofensa à liberdade da pessoa. Proibir, dá vontade”.


- Dartiu: “supõe-se que se houver a legalização da maconha, metade dos adolescentes vão parar de usar, pois acaba o fator transgressão.”



- Cristiano: “políticas mais repressivas, não implicam em redução da demanda”



- Lobão: “temos um número relativamente pequeno de usuários de drogas, mas somos um dos epicentros do tráfico de drogas, temos uma violência urbana terrível, tudo gerado porquê? Porque é proibido. Porque se não fosse proibido, o que que o cara ia traficar com uma AR-15, o quê? Whisky?”



- Dartiu: “os maiores interessados em manter o proibicionismo são os traficantes”.



- Daniel: “mas vai continuar existindo maconha pirata também, mais barata.”



- Cristiano: “é preciso compreender que essa idéia autoritária de uma sociedade totalmente sem crime, é uma idéia totalmente irrealizável, uma utopia, o 'preço da liberdade é o eterno delito', é preciso tolerar um certo grau de transgressão, se quisermos viver com um mínimo de liberdade.”



- Dartiu: “quando ocorre uma legalização pode haver um aumento do consumo, mas o aumento do consumo não é proporcional ao aumento do número de dependentes, por exemplo na Lei Seca americana, a proporção de dependentes não mudou.”



- Dartiu: “o usuário não deveria ser alvo de nenhuma sanção penal, ou ele precisa de tratamento, ou ele precisa ser respeitado!”



- Lobão: “a proibição da Marcha da Maconha é um tremendo vexame, pega mal, né?!”.



- Cristiano: “a discussão, no âmbito do proibicionismo, fica praticamente impossibilitada, o proibicionismo causa mais males, que os problemas que ele quer resolver.”


É impressionante que até hoje, mesmo com todos os artigos publicados no mundo todo, há pessoas que continuam afirmando, como a psicóloga Isabel Ferreira, que “é real e há dados que comprovam” que a legalização aumenta o consumo, que há um aumento geral da violência e da criminalidade e os benefícios só são para poucos. (Ou eu é que estou lendo os artigos errados?!)

E para finalizar não poderia deixar de falar das intervenções do delegado do DENARC, querendo convencer a todos que a lei brasileira é muito avançada, e que “hoje está praticamente despenalizada (a posse para o consumo), não é crime” e que o critério discricionário não é subjetivo (critério previsto na lei e usado para diferenciar posse/produção para consumo próprio e para tráfico, pelos delegados e magistrados), quando desafiado pela pergunta feita por Marco Magri do Coletivo Marcha da Maconha. Marco que, no meio de tantos especialistas no assunto, quase não teve espaço para falar da proibição da Marcha da Maconha, que foi o que levou à convocação do debate, em primeiro lugar.

Mesmo assim, a discussão sobre a política de drogas no Brasil teve um bom espaço na mídia, em raro momento onde o apresentador realmente deixou os debatedores falarem abertamente e até ajudou o debate. Pontos para a democracia!

Lobão e o MTV Debate estão de parabéns!


May 4, 2009

IHRA 2009- Tailândia - Começando pelo fim - "Reflexões sobre a política de redução de danos e a resposta global ao HIV" Craig McClure.



"Somos todos pessoas que usam drogas e a nossa recusa em admitir isso é a expressão do medo de que "nós" seremos transformados ou vistos com um "deles". Enquanto continuarmos definindo o usuário de drogas como "o outro" e definindo a droga em si como o problema, estaremos presos nos nossos mal conduzidos e danosos programas e políticas". Foi com essas palavras que o diretor executivo da International AIDS Society, Craig McClure, chamou a atenção de centenas de pessoas presentes na cerimônia de encerramento da Conferência Internacional de Redução de Danos realizada em Bangkok, Tailândia de 21 a 23 de abril de 2009. Tive o privilégio de presenciar este momento histórico para a redução de danos e passo aqui os detalhes deste discurso.

Closing Session - Craig McClure from Harm Reduction Conferences on Vimeo.



Resolvi começar meus relatos da conferência da IHRA (Tailândia) pelo fim.

A relevância do tema e as belas palavras proferidas pelo diretor executivo da International AIDS Society, Craig McClure no excelente discurso de encerramento, proporcionou aos presentes um momento de reflexão e inspiração. Faço aqui um resumo traduzido do discurso que pode ser lido na íntegra, em inglês, no Blog HR2 (http://www.ihrablog.net/2009/04/reflections-on-politics-of-harm.html).

Com o título "Refexões sobre a política de redução de danos e a resposta global ao HIV" Craig McClure, inicia relembrando sua participação na conferência internacional de AIDS realizada em Bangkok há 5 anos, em meio à epidemia de gripe aviaria e à ameaça de cancelamento da conferência (como aconteceu desta vez também) e o momento crítico da execução de milhares de usuários de drogas pelo governo tailandês, na tentativa de conter o problema das drogas no país.

Nestes cinco anos de trabalho concluiu que é o medo o principal condutor das ações mundiais relacionadas às drogas, ao uso de drogas e ao usuário de drogas. Em seguida oferece três observações sobre a resposta ao HIV, em relação ao uso de drogas e à redução de danos, todas baseadas no medo.

1- A pessoa que usa droga como "o outro": "...usamos os termos "usuários de drogas", "pessoas que usam drogas" como se alguns de nós não usassem drogas. Mas quem de nós não usa alguma droga que altera o humor, a percepção da dor, ou o estado físico ou emocional?" Então cita uma série de drogas ilegais, bebida, cigarro, pílulas p/ a dor e para dormir, e diz que até os três últimos presidentes dos EUA admitiram usar algumas delas. "Somos todos pessoas que usam drogas e a nossa recusa em admitir isso é a expressão do medo de que "nós" seremos transformados ou vistos com um "deles". ""... realmente devemos focar na diferença entre uso de drogas e dependência de drogas. A política mundial de drogas continua concentrando prioritariamente seus esforços nas substâncias isoladamente. Isto está errado". "... como e porque algumas pessoas se tornam dependentes de drogas e não outras e como podemos prevenir a dependência ainda é uma área que requer muita pesquisa. Mas nenhuma justificativa deve ser usada para culpar ou discriminar o dependente de drogas. Enquanto continuarmos definindo o usuário de drogas como o outro e definindo a droga em si como o problema, estaremos presos nos nossos mal conduzidos e danosos programas e políticas".

2- A negação deliberada das evidências e o abuso da autoridade médica: fala do caso da metadona continuar ilegal na Rússia, apesar de todas as evidências indicando sua eficácia nos programas de substituição para usuários injetáveis de heroína. "Essa contínua negação só poder ser baseada em profundo medo. Lembrem que esta sociedade foi calcada na negação pelo medo". E faz uma comparação com os horrores, por anos negados, da era Stalin. Segue dizendo que a Rússia não é um caso isolado e que até no seu próprio país, Canadá, os programas de redução de danos têm enfrentado constantes ameaças do governo que, por vezes, se recusa a enxergar a evidência dos resultados. "É o medo o condutor da guerra global às drogas e dos abusos infligidos aos usuários de drogas". Denuncia os abusos cometidos em nome do tratamento por médicos (e outros profissionais), que não só se recusam a agir segundo as evidências, mas também violam os direitos humanos e o juramento hipocrático. "A Associação Internacional de AIDS condena estas práticas anti-éticas e desumanas". "O medo pode gerar a negação de qualquer evidência que apresentarmos".

3- O abismo das diferenças existente entre a visão da redução de danos sobre o uso de drogas e o que proclamam os ativistas do movimento anti-drogas: "Indivíduos do movimento anti-drogas são também motivados por suas experiências com os piores danos associados ao uso de drogas. Discutir essas experiências abertamente, sem preconceitos, pode ser o começo de um discurso comum, que partilhamos. Se não somos capazes de acessar esses grupos, e encontrar um ponto em comum, então nossa evidência, nunca superará o medo deles". "E o mais importante é que devemos superar o nosso próprio medo de prejudicar o argumento de que a redução de danos funciona, se reconhecermos e falarmos muito abertamente do lado horrendo da dependência de drogas. Se deixarmos a fresta entre nós e os movimentos anti-drogas se abrir demais, teremos que lutar nesta guerra bem mais que o necessário".

Na conclusão do seu discurso, McClure fala da Conferência Internacional de AIDS a ser realizada em Viena em 2010 e conclama os futuros participantes a não deixar o medo dominar o evento como aconteceu este ano com os oficiais participantes da CND em Viena.

E finaliza dizendo: "Companheiros usuários de drogas, vamos continuar buscando profundamente dentro de nós mesmos, e enfrentar nossos próprios medos sobre as drogas que usamos, como as usamos, como podemos continuar curiosos, a sentir bem, a sentir melhor, e a fazer melhor. Vamos continuar pensando em como podemos prevenir ou reduzir qualquer dano que podemos causar a nós mesmos, às nossas famílias, à nossa comunidade e sociedade. Vamos acabar com a infecção pelo HIV em pessoas que usam drogas, e tratar, cuidar e apoiar aqueles que vivem com o HIV. Vamos progredir para um discurso unificado, em que a saúde pública e os direitos humanos são dois lados da mesma moeda. Vamos lutar por uma sociedade mais justa para todas as pessoas em todos os lugares. Finalmente, vamos continuar buscando um campo comum com aqueles que ainda não estão "do lado correto da história" (como definiu Michel Kazatchkine na abertura desta conferência). Que possamos encontrar a paixão e compaixão para conversar com os nossos, assim chamados, inimigos, mostrá-los o caminho, e ajudá-los a superar seus medos. Porque como o laureado com o Nobel e guerreiro dos direitos humanos Aung San Suu Kyi disse: medo não é o estado natural dos povos civilizados."

O encerramento ainda contou com as considerações finais de Gerry Stimson, do relator da conferência Nicholas Crofts, do representante da INPUD (Rede Internacional de Pessoas que Usam Drogas) - Eric Schneider que consideraram a conferência um sucessso e do anúncio de Liverpool como local da conferência da IHRA em 2010.

Mais relatos sobre a IHRA 2009 - Tailândia podem ser encontrado em http://www.ihra.net, em inglês.
Em breve enviarei novos relatos, que também serão postados em www.psicotropicus.org e www.marisafelicissimo.net, para ampla divulgação.

Até breve,
Marisa

House of Cards - Any resemblance to reality is NOT pure coincidence.

Underwood's speech in House of Cards shows astonishing resemblance to Bush's address to the Congress in 2001 when the War on Terror...