Jun 8, 2017

House of Cards - Any resemblance to reality is NOT pure coincidence.


Underwood's speech in House of Cards shows astonishing resemblance to Bush's address to the Congress in 2001 when the War on Terror was declared. Although season 4 was not as good as previous ones I applauded the ending just because it was an ultimate sarcastic representation of reality. 15 years gap between those speeches and both scare the same. The fear tactic was brilliantly adapted to a TV series, and it deserves a closer look. In this video I compare the last scenes of season 4 of the political drama House of Cards and what happened in the US after 9/11. WARNING- contains major spoilers for season 4.


House of Cards is a Netflix original series running since 2013. Francis Underwood (Kevin Spacey) is the ruthless and sarcastic democrat US president. He is under investigation for a series of crimes, and in order to divert attention he creates his own war on terror in the hope voters will support him in the coming election.

The former republican US president George W. Bush used this fear tactic several times. The one in the video was in 2001 after the terror attacks of 09/11. He used it again in 2008 when the economic crisis was hitting hard (a brief extract of Michael Moore's documentary -Capitalism: A Love Story was used here to illustrate the fear tactic).

Create fear to push reactionary agendas was used in several countries in different contexts  throughout the history. The War on Drugs is another good example. As tragedy is always fun on the screen, let's enjoy season 5 of House of card. All episodes now available on Netflix.

The Best on Sreen is my new series of posts analysing the psycho-social-political content of movies and TV series.

Check more of my videos on my YouTube channels.

https://www.youtube.com/channel/UCY6q5yuhnbFXkeRKqjCAMSAMy Movie Journal

Mar 10, 2015

About Marisa Felicissimo



E-mail: marisa@marisafelicissimo.net



MARISA FELICISSIMO has graduated in Medicine at the Federal University of Minas Gerais in 1999, completed medical residency in Psychiatry at the Federal University of Rio de Janeiro (IPUB) in 2002, and specialization on Integrated psychosocial care of alcohol and drug users - CAPS-AD (IPUB / Ministry of Health) in 2003.

As part of the 2007/2008 Hubert Humphrey Fellowship Program hosted by the Virginia Commonwealth University in USA, Marisa Felicissimo concluded several professionals affiliations with American specialists and researchers in Virginia (Richmond Behavior Authority), Seattle (Addiction Behavior Research Center, University of Washington) and San Francisco (The Harm Reduction Therapy Center).

As a civil servant of the Municipal Health Secretary of Rio de Janeiro, Marisa Felicissimo worked for 2 years in the psychiatric outpatient service of the Municipal Center Nise da Silveira and for 4 years at the Center for Addiction Treatment of PAM Helio Pelegrino (NAAD, today CAPS-AD Manoel Garrincha) delivering specialized psychiatric treatment and psychotherapy, coordinating a multidisciplinary team and training community based health workers, and the staff of homeless shelters. Marisa Felicissimo also worked as a consultant in clinical psychiatry in private general hospitals (Quinta and Barra D'or) in Rio de Janeiro for more than 3 years.

Marisa Felicissimo participated in several research projects in the area of alcohol and drugs at PROJAD / IPUB UFRJ, including the validation study of ASI version 6, and in the area of pharmaceuticals working as a co-investigator of over 10 different multi-center clinical trials for Sandra Ruschel's Research Center at Mario Kroeff Hospital, RJ.

Since October 2008, Marisa Felicissimo lives in Brussels, Belgium. From 2009 to 2010 Marisa was part of Psicotropicus - Brazilian Center for Drug Policies director's board and worked on the integration of this NGO with other Brazilian, European and U.S. drug policy and harm reduction organizations. From 2009 to 2011 Marisa was a member of the Steering Committee of ENCOD - European Coalition for Just and Effective Drug Policies, and participated of important meetings with UNODC, the European Commission and the EU Parliament.

Marisa Felicissimo has recently concluded a master's degree in political and social sciences, more specifically in studies of population and international cooperation at Brussels University (Université Libre de Bruxelles) with a research thesis in the area of organizational change, governmental funding of NGOs and HIV/AIDS programs and services (

Topics of interest: Globalization, international institutions, international aid effectiveness, government-NGO-citizen relationship, social and health policies, HIV/AIDS, drugs, harm reduction, multi-disciplinary integrated treatment, migration and citizenship.



MARISA FELICISSIMO possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999), residência médica em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) e especialização para atendimento psicossocial a usuários de álcool e drogas - CAPS-AD (IPUB/Ministério da Saúde, 2003).

Em 2008 realizou afiliação profissional no Addiction Behavior Research Center, University of Washington, Seattle e no Harm Reduction Therapy Center, San Francisco, como parte do 2007-2008 NIDA Hubert Humphrey Drug Abuse Research Fellowship Program, realizado na Virginia Commonwealth University, Estados Unidos.

Como psiquiatra concursada da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro trabalhou por 2 anos na assistência ambulatorial do Instituto Municipal Nise da Silveira e por 4 anos no Núcleo de Atenção ao Alcoolismo e Drogadicção, do PAM Hélio Pelegrino, realizando tratamento psiquiátrico e psicoterápico especializado, coordenação de equipe multidiciplinar e capacitação de agentes de saúde e para profissionais que trabalham com moradores de rua. Marisa ainda trabalhou como consultora clínica em psiquiatria nos hospitais gerais Barra e Quinta D'or no Rio de Janeiro por mais de 3 anos.

Participou de pesquisas na área de álcool e drogas realizadas no PROJAD/IPUB/UFRJ, incluindo o estudo de validação da versão 6 do ASI e também foi co-investigadora de mais de 10 ensaios clínicos multicêntricos de psicofármacos no Centro de Pesquisa Sandra Ruschel do Hospital Mário Kröeff, RJ.

Desde outubro de 2008 mora em Bruxelas, Bélgica. De 2009 a 2011 atuou no comitê diretor da ENCOD - coligação européia por políticas de drogas justas e eficazes. E de 2009 a 2010 fez parte do grupo diretor da Psicotropicus - Associação Brasileira de Políticas de Drogas. Nestas duas organizações atuou na integração destas ONG com outras organizações brasileiras, européias e americanas da área de política de drogas e redução de danos e participou de importantes reuniões e congressos, notadamente reuniões na ONU e na Comissão Europeia.

Atualmente cursa o segundo ano do mestrado em ciências políticas e sociais na Universidade Livre de Bruxelas, na área de cooperação internacional.

Temas de interesse: Globalização, instituições internacionais, eficácia da ajuda internacional e da relação governo-ONG-cidadão, políticas sociais e de saúde, HIV/AIDS, drogas, redução de danos, tratamento multidisciplinar e integrado, migrações e cidadania.


May 25, 2013

Brasil e a lei de drogas: o retrocesso

Se eu fosse cartunista desenharia uma charge assim: dois brasileiros de classe media alta conversando. Um, que poderia ser um psiquiatra, diria: "Vencemos a primeira batalha! Lugar de usuário de drogas é na cadeia!" O outro, que poderia ser o Tio Sam, um grande comerciante ou um político, responderia: "Graças! Conseguimos! Agora vamos privatizar o sistema carcerário!"

Uma outra tirinha poderia ser assim: Richy Martin modificando sua música e dança para o caso brasileiro: "Un, dos, tres, un pasito pa'delante Maria, Un, dos, tres, dos pasitos pa'atras".

Como não sou cartunista, e cansei de "pregar aos convertidos". Aqui vai um pequeno comentário sobre a mudança da lei de drogas no Brasil e alguns links pra quem quiser saber mais.

Quem acompanhou essa história da "epidemia do crack" e do "sucesso" do BOPE desde o início, ou pelo menos desde que esse assunto foi parar na mídia (2007-2008), sabe muito bem como tudo começou... e do que estou falando. Para quem não acompanhou a evolução da radicalização das ideias intervencionistas, contra a política humanista da redução de danos e do respeito do ser humano e de suas liberdades, aqui vai a repostagem de algumas coisas que escrevi, entre elas, uma nota da ABP (Associação Brasilileira de Psiquiatria) contra o tratamento de dependentes de drogas nos incipientes CAPS-AD e contra a construção de uma política de drogas anti-manicomial e respeitosa dos direitos e liberdades dos usuários de drogas.

E só mais um comentário para fazer pensar: acredito que políticas interessantes, inovadoras e compatíveis com um mundo mais humano infelizmente só têm sucesso, quando conseguem ficar fora dos olhares da grande mídia e portanto, da pequena grande elite neo-liberal e conservadora. Assim foi em Portugal, na Holanda e até mesmo no Brasil, que desde a década de 80 vinha implementado políticas de atenção à AIDS e às drogas em linha com os mais recentes estudos e pautadas por um profundo respeito do "doente" como agente de sua própria "cura". 

Ainda me resta uma pontinha de esperança... de que essa mudança da lei de drogas não perdure e que não seja um "sinal dos novos tempos", onde a radicalização de pensamentos e a moralização das práticas vem crescendo exponencialmente e de maneira assustadora, (aqui na Europa), fomentada pela crise econômica e pelos "reajustes", que colocam em risco liberdades e práticas humanistas, adquiridas com muita luta por diferentes movimentos sociais.

Leia mais neste blog:


Jun 13, 2012

Rio+20: is HEALTH on the agenda?

According to the new editorial by The Lancet, health was "barely mentioned" in the initial draft of the Rio+20 agenda. The UN Conference on Sustainable Development (Rio+20)which is about to start in Rio de Janeiro, with the slogan “the future we want” is not on the minds of 80% of brazilians, as health is. That was revealed by a inquiry conducted by the Ministry of Environment, where health was among the first concerns of the ones interviewed while environment was at 6th place.


Actually, health and environment are more interconnected than most of people think. And that is why WHO and other major global health players are so keen to “ensure that health is protected and promoted in global policy arenas outside the health sector”. The idea is to integrate health concerns to every policy, from economy, through transport to environment.


The editorial brings two other articles that explores links between health and sustainable development that are worth reading. I'll conclude this post with the citation of the last paragraph of the editorial, with which I agree entirely.


"Sustainable development is, by definition, broad and encompasses an array of social, economic, and environmental dimensions. Since a healthy environment is a prerequisite for healthy people and vice versa, the Rio+20 conference must not only re-examine, but also put at its centre, the link between health, the environment, and sustainable development. As WHO has correctly suggested, universal access to health care, health co-benefits from sustainable policies in different sectors, and health-related indicators must be included in the metrics of sustainable development. All of these principles and processes are essential and need to be supported by sustained advocacy. Rio+20 must not be just another large, costly, and environmentally destructive conference. It must be one that, in the future, is looked upon as launching a new era for human wellbeing, one that is rooted in principles of equity, social justice, and sustainability."

For more on Rio+20 see EditorialLancet 2012; 379: 193
For more on the Commission on Global Governance for Health see CommentLancet 2012; 379: 1470—71
For more on the inclusive ‘health in all policies’ approach see CommentLancet 2012; 379: 1077—78

May 25, 2012

AIDS and Government responses: Brazil X South Africa


AIDS and the State:The Politics of Government Responses to the Epidemic in Brazil and South Africa. I've chosen this article that best illustrates what I'm studying right now. It analyses the case of both countries and lists factors that contributes to explain why the Brazilian program to fight HIV/AIDS had a faster and better impact than the South African one. I copy here the abstract but it's worthy to take a look at the entire article, that is available on the internet (just follow the link). Enjoy!



"Political scientists have paid little attention to the politics of epidemics. This article begins to fill this gap by taking up the question of why some states have responded to the HIV/AIDS epidemic more aggressively than others, conceptualizing AIDS responses as a form of state-building. We attempt to answer the general question by comparing two countries, Brazil and South Africa, in which we might have expected similar state responses but in which we in fact observe substantially different policy trajectories. Our method of structured comparison tests for covariance between policy outcomes and political causes, and it identifies intermediate and logically plausible steps between cause and effect. We present evidence that Brazil’s response was more aggressive than South Africa’s with respect to bureaucratic development, and was much more aggressive with respect to both the prevention of HIV and the treatment of persons with HIV and/or AIDS. We argue that two factors explain the divergent responses: institutions established more space for policy entrepreneurship in Brazil, and the scope of the national political community, especially as it facilitated a racial interpretation of the virus, hindered the state response more in South Africa. We examine and reject several rival hypotheses that might explain the largely divergent response in the two countries: the nature and timing of the democratic transition, who was infected and when, the relative strength of civil society, the quality of leadership, general state capacity, and international linkages."


Authors: Varun Gauri, Economist, Development Research Group, The World Bank & Evan S. Lieberman, Assistant Professor, Department of Politics, Princeton University Princeton, New Jersey, USA.



Jun 15, 2011

HIV/AIDS - Brazil, an emerging actor in development cooperation


For all those months, since I last wrote here, I've been wondering how could I merge my background in drug policies and addiction treatment studies with my new goal of learning and engaging into the international cooperation field. Focus myself into Global Health would be the obvious choice. And at this moment it seems the most reasonable path. After all, it's relatively easy to quit medical practice but it's not that easy to delete nearly 16 years of medical learning and practice from a CV. The difficult thing is to try to find a common ground between the old and the new and still looks coherent. That has been my challenge.

I'm not quite ready to quit the idea of focusing my studies on governance, participatory democracy, international migration and refugees (my new passion?!), but at least to make a smooth transition, specially for this blog, I'll start writing and posting things that I consider the link between my past and my future. Soon I'll be changing the name of this blog, because I'll no longer be talking exclusively about drugs.

So, here I go with a not so new, but interesting thing that I found out about Brazilian international technical cooperation with African countries. Development cooperation is all about Africa (at least here in Belgium) and they only talk about Brazil to give successful development examples like the conditioned cash transfer program (Bolsa Familia), participatory budgeting (orçamento participativo), and the HIV/AIDS treatment. All three are now extensively evaluated, and despite some criticism (they always have), they are indeed successful stories (which is rare in development practices), that are being exported elsewhere. Even Belgium has adopted the participatory budgeting following the Brazilian way.

Brazil is also frequently cited as a new actor in development cooperation. Along with other emerging countries like China, India and South Africa, Brazil is starting many cooperation projects around the world. Besides other Latin America countries, Africa has been a privileged partner in technology transfer and capacity building. In the health field Brazil has recently started a cooperation with Mozambique to build a pharmaceutical industry to produce HIV medicine. The project is being implemented in cooperation with Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), the main public laboratory producing drugs for the Brazilian Health System. By 2012 essential medicines will start to be produced locally and help diminishing Mozambique dependence on "donated" medicines from international aid.

The importance of this project rests on the technology transfer, and the success will depend heavily on how the Mozambican government will absorb and use the knowledge and keeps the medicine production running after the technical assistance leaves. As for the impact on HIV/AIDS treatment another variable will have to be taken into account. Does the government has a health system that provides universal access to the HIV population? And will this system be able to provide HIV medication for those in need, for free? Looking at the Brazilian experience, we have learned that breaking the patent and producing HIV medication sur place was a breakthrough, but it would not be sufficient without the other components of the health policy that were implemented early on the HIV epidemic.

If you want to learn more about this subject here are some useful links:

Insouth

Brasil doará equipamentos para instalações de fábrica de medicamentos para a Aids na África

Ministry of Foreign Affairs of Brazil – Brazilian Agency for Cooperation – ABC

Brazil - Ministry of Health - HIV/ AIDS

UNAIDS - Brazil

Nov 29, 2010

A crise no Rio, por Luiz Eduardo Soares

Desde julho estou dando uma pausa ao blog para me dedicar aos estudos de cooperação internacional ao desenvolvimento. Durante este período, apesar da extrema restrição de tempo, não deixei de acompanhar os assuntos mais importantes no "mundo das drogas". Nem a mudança do diretor do UNODC, nem a derrota da propositon 19 na Califórnia, nem as discussões sobre maconha medicinal no Brasil me motivaram a voltar a escrever sobre o assunto. Por que então "a crise no Rio"?

Dentre todos os assuntos sobre os quais já estudei, debati, critiquei, realmente são somente dois que me movem profundamente. Um é a questão dos direitos dos usuários, principalmente no que diz respeito às decisões sobre tratar, não-tratar e como tratar e o outro e a violência ligada ao comércio de drogas, principalmente no Brasil. Assim resolvi "re-inaugurar" o meu blog com a reprodução deste artigo do blog de Luiz Eduardo Soares, que embora seja mais conhecido do grande público por seus livros que inspiraram os filmes Tropa de Elite, é um grande estudioso da violência urbana e da dinâmica polícia-estado na segurança pública fluminense. Ele critica aqui a hipocrisia da mídia e analisa o problema pontuando a necessidade de uma reforma profunda das polícias e das políticas de segurança pública no Rio.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010
blog de Luiz Eduardo Soares

A crise no Rio e o pastiche midiático

Sempre mantive com jornalistas uma relação de respeito e cooperação. Em alguns casos, o contato profissional evoluiu para amizade. Quando as divergências são muitas e profundas, procuro compreender e buscar bases de um consenso mínimo, para que o diálogo não se inviabilize. Faço-o por ética –supondo que ninguém seja dono da verdade, muito menos eu--, na esperança de que o mesmo procedimento seja adotado pelo interlocutor. Além disso, me esforço por atender aos que me procuram, porque sei que atuam sob pressão, exaustivamente, premidos pelo tempo e por pautas urgentes. A pressa se intensifica nas crises, por motivos óbvios. Costumo dizer que só nós, da segurança pública (em meu caso, quando ocupava posições na área da gestão pública da segurança), os médicos e o pessoal da Defesa Civil, trabalhamos tanto –ou sob tanta pressão-- quanto os jornalistas.

Digo isso para explicar por que, na crise atual, tenho recusado convites para falar e colaborar com a mídia:

(1) Recebi muitos telefonemas, recados e mensagens. As chamadas são contínuas, a tal ponto que não me restou alternativa a desligar o celular. Ao todo, nesses dias, foram mais de cem pedidos de entrevistas ou declarações. Nem que eu contasse com uma equipe de secretários, teria como responder a todos e muito menos como atendê-los. Por isso, aproveito a oportunidade para desculpar-me. Creiam, não se trata de descortesia ou desapreço pelos repórteres, produtores ou entrevistadores que me procuraram.

(2) Além disso, não tenho informações de bastidor que mereçam divulgação. Por outro lado, não faria sentido jogar pelo ralo a credibilidade que construí ao longo da vida. E isso poderia acontecer se eu aceitasse aparecer na TV, no rádio ou nos jornais, glosando os discursos oficiais que estão sendo difundidos, declamando platitudes, reproduzindo o senso comum pleno de preconceitos, ou divagando em torno de especulações. A situação é muito grave e não admite leviandades. Portanto, só faria sentido falar se fosse para contribuir de modo eficaz para o entendimento mais amplo e profundo da realidade que vivemos. Como fazê-lo em alguns parcos minutos, entrecortados por intervenções de locutores e debatedores? Como fazê-lo no contexto em que todo pensamento analítico é editado, truncado, espremido –em uma palavra, banido--, para que reinem, incontrastáveis, a exaltação passional das emergências, as imagens espetaculares, os dramas individuais e a retórica paradoxalmente triunfalista do discurso oficial?

(3) Por fim, não posso mais compactuar com o ciclo sempre repetido na mídia: atenção à segurança nas crises agudas e nenhum investimento reflexivo e informativo realmente denso e consistente, na entressafra, isto é, nos intervalos entre as crises. Na crise, as perguntas recorrentes são: (a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a explosão de violência? (b) O que a polícia deveria fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas? (c) Por que o governo não chama o Exército? (d) A imagem internacional do Rio foi maculada? (e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Ao longo dos últimos 25 anos, pelo menos, me tornei “as aspas” que ajudaram a legitimar inúmeras reportagens. No tópico, “especialistas”, lá estava eu, tentando, com alguns colegas, furar o bloqueio à afirmação de uma perspectiva um pouquinho menos trivial e imediatista. Muitas dessas reportagens, por sua excelente qualidade, prescindiriam de minhas aspas –nesses casos, reduzi-me a recurso ocioso, mera formalidade das regras jornalísticas. Outras, nem com todas as aspas do mundo se sustentariam. Pois bem, acho que já fui ou proporcionei aspas o suficiente. Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes. Particularmente, não gostaria de continuar a ser cúmplice involuntário de sua contínua reprodução.
Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:

(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?

Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?

Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.

A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco.
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.

(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?

Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.

Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la –isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.

Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.

Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas –mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.

(c) O Exército deveria participar?


Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.

E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.

(d) A imagem internacional do Rio foi maculada?

Claro. Mais uma vez.

(
e) Conseguiremos realizar com êxito a Copa e as Olimpíadas?

Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o “espírito cooperativo”, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia.

Palavras Finais
Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa “Mutirões pela Paz”, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com “p” minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.

O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios –as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.

Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?

As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los. Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados.

E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.
Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.

O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.

Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.

House of Cards - Any resemblance to reality is NOT pure coincidence.

Underwood's speech in House of Cards shows astonishing resemblance to Bush's address to the Congress in 2001 when the War on Terror...